Na última década falou-se muito sobre a fluidez do conhecimento e
conhecimento distribuído. Especialmente dois autores canadenses George Siemens
e Stephen Downes tem se destacado no âmbito desta discussão. Siemens, desenvolveu
e fundamentou uma nova teoria de aprendizagem no texto intitulado, Conectivismo:
Uma teoria de aprendizagem para a idade digital de 2004. Segundo ele, as
teorias de aprendizagem existentes são insuficientes para compreender as características
do individuo aprendiz do século XXI, face às novas realidades de
desenvolvimento tecnológico e a sociedade organizada em rede.
Face à incapacidade das teorias de aprendizagem mais usadas no desenho de
ambientes instrucionais (O Behaviorismo, o Cognitivismo e o
Construtivismo) de darem resposta à nova realidade imposta pelo avanço da
tecnologia e que se traduz nas mais variadas formas de comunicação e
aprendizagem formal, informal e não formal, Siemens (2004) propõe uma
alternativa para a era digital, o Conectivismo como nova teoria da
aprendizagem, no artigo Connectivism:
A Learning Theory for the Digital Age.
Contudo, na atualidade tem se moldado uma nova visão do conhecimento e
da aprendizagem e, cada vez, mais fica evidente que a aquisição do conhecimento
não ocorre exclusivamente por vias institucionais, conforme a perspectiva
tradicional de ensino. Há uma manifesta valorização do processo de integração
do modelo formal, informal e não formal que pressupõe que a aprendizagem ocorre
de maneira contínua e é inerente a nossa vida cotidiana.
Como Siemens explicou, em 2004, "a tecnologia reorganizou o modo
como vivemos, como nos comunicamos e como aprendemos" e agora, a aprendizagem
ocorre de várias maneiras, com destaque para a aprendizagem informal através de
comunidades de prática, redes pessoais e também atividades relacionadas ao
trabalho.
Logo podemos observar os tipos de atividades relacionados por Siemens
conhecidos como Domínios do Conhecimento e da Aprendizagem - George Siemens (2006: 34):
A
aprendizagem por transmissão baseia-se na perspectiva tradicional, em
que o aprendente é exposto a um conhecimento estruturado, através de palestras
e cursos, inserido num sistema. Esta abordagem é útil na construção de um
conjunto de conhecimentos básicos e essenciais relativamente a uma disciplina
ou área científica. É, contudo, um modelo dispendioso e lida mal com algumas
das características fundamentais da aprendizagem (social, biunívoca, em
processo).
A
aprendizagem por emergência dá maior destaque à reflexão e à cognição,
através das quais o aprendente adquire e cria ou, pelo menos, internaliza, o
conhecimento. É uma abordagem efetiva para uma aprendizagem profunda (não
superficial) e pode promover a inovação e a cognição de alto nível. É um modelo
difícil de implementar em larga escala, pois requer boas competências e
pensamento crítico por parte de todos os estudantes, bem como um elevado nível
de familiaridade com os conteúdos.
A aprendizagem por aquisição é exploratória e baseada na
inquirição. Cabe ao aprendente definir o conhecimento de que necessita e
participar ativamente no processo de modo a garantir a sua motivação e a
consecução dos seus interesses pessoais. A aprendizagem auto-dirigida pode
revelar-se problemática em algumas organizações em que haja objetivos de aprendizagem
muito claramente definidos, pois a liberdade e o controlo dados ao aprendente
não são facilmente conciliáveis com os objetivos predeterminados que se querem
atingir. É frequente associar-se a falta de estrutura a falta de enfoque, e por
isso a aprendizagem auto-dirigida tende a ser vista como pouco rigorosa, mas a
verdade é que ela constitui a maior parte da nossa aprendizagem, pois estamos
constantemente a dedicar-nos a matérias e a conhecimento que são do nosso
interesse pessoal ou se relacionam com a nossa competência profissional.
A
aprendizagem por acreção é contínua. Enquanto função do ambiente, o
aprendente procura o conhecimento quando e onde ele é necessário. É a vida
real, e não a teoria, que comanda este tipo de aprendizagem, que constitui uma atividade
constante na nossa vida: através de diálogos, de um workshop, de um artigo,
aprendemos coisas novas; ganhamos experiência através da nossa reflexão sobre
os projetos que desenvolvemos, sejam eles bem ou mal sucedidos, conectamos e
associamos uma grande variedade de elementos e atividades, moldando e
criando constantemente a nossa compreensão e o nosso conhecimento.
Até bem pouco tempo
atrás (40 anos) os estudantes podiam completar a escolaridade solicitada e iniciar
uma carreira que podia, na maioria das vezes, durar a vida toda. O
desenvolvimento das informações era lento. A duração do conhecimento era medida
em décadas. Hoje, esses princípios de origem foram alterados. O conhecimento
está crescendo exponencialmente. Em muitas áreas a duração do conhecimento é
agora medida em meses e anos. Gonzalez (2004) descreve os desafios da diminuição
rápida da duração do conhecimento: Um dos fatores mais persuasivos é o
encolhimento da duração do conhecimento para metade. A “meia-duração do
conhecimento” é o tempo de duração desde que se obtém o conhecimento até que
ele se torne obsoleto. Metade do que é conhecido hoje não era conhecido há 10
anos atrás. A quantidade de conhecimento no mundo dobrou nos últimos 10 anos e
está dobrando a cada 18 meses, de acordo com a Sociedade Americana para
Treinamento e Desenvolvimento (ASTD). Para combater o encolhimento para a
metade da duração do conhecimento, as organizações tem sido forçadas a
desenvolver métodos para disseminar a instrução.
Além
disso, as teorias de aprendizagem tradicionais, utilizadas como suporte à
educação presencial, não foram produzidas tendo em mente ambientes virtuais.
Muitos autores, por consequência, defendem que são necessárias novas teorias,
ou no mínimo uma revisão dessas teorias tradicionais, para suportar as novas
práticas de aprendizagem em educação online, plataformas da web 2.0,
redes sociais e dispositivos móveis. Seriam necessárias, portanto, novas
estratégias pedagógicas para dar conta da interação, comunicação e produção de
conteúdo colaborativo em ambientes virtuais.
Mas há também
problemas e desafios a serem superados: a falta de estrutura e objetivos de
aprendizagem pode gerar uma sensação de confusão e falta de orientação; a falta
de interação constante com o professor pode resultar numa sensação de ausência
de guia e direção; a falta de domínio básico de informática e mesmo do uso de
ferramentas distribuídas em rede podem exigir uma curva de aprendizado inicial;
o alto nível de ruído de conversas simultâneas pode gerar uma sobrecarga
cognitiva; e o alto nível de autonomia e autorregulação da aprendizagem exigido
dos alunos pode impulsionar a evasão.
Entretanto o processo de
tomada de decisão é em si um processo de aprendizagem. Escolher o que aprender
e o significado da informação recebida deve ser visto à luz de uma nova
realidade: embora haja uma resposta certa agora, ela pode ser errada amanhã
devido a alterações nas informações que afectam a decisão.
Em uma de suas
apresentações Siemens (2008 b) fala sobre uma ecologia
da aprendizagem que pode ser definida como um ambiente que promove e apoia a
formação de comunidades e redes. No atual contexto educacional, uma sala de
aula é uma ecologia. A aula permite a emergências de certas tarefas de
aprendizagem e comportamentos e, pelo seu design, desencoraja outros. Mais
crítico, uma sala de aula é um espaço delimitado fisicamente. A aprendizagem
está, assim, delimitada, estruturada e gerida por um único perito (o
professor).
Em contrapartida, a Internet
pode ser vista como uma ecologia de aprendizagem com diferentes
potencialidades. A Internet é um centro de caos criativo.
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